A luz fria da sala de espera estalava sobre a pele de Flavia, o silêncio apenas quebrado pelo folhear de uma velha revista disposta pelo consultório. Uma adolescente escolhera o carcomido folhetim para despender sua atenção.
“Tão jovem... que que ela está fazendo aqui?” Pensou Flavia. A menina não aparentava ter mais de quinze anos. Longas madeixas caem-lhe sobre os ombros, suas mãos finas e delicadas tomavam cuidado ao virar a página, preservando ao máximo a brochura da rota revista. Observando a cena Flavia não se conteve e riu em sua alma. Tinha o dobro da idade da menina, mas o juízo não era tão diferente. Fizeram a mesma merda, foram igualmente idiotas e agora, sozinhas, carregavam o mesmo fardo. Seu momento de reflexão interna dissolve-se quando sente a vibração de seu celular dentro da bolsa. Para seu espanto a pequena tela informava que o setor de recurso humanos estava entrando em contato. O coração afunda, o estômago embrulha. Ela sabia, ah, ela sabia o que era. Saindo do prédio para que ninguém a ouça, ela atende o telefone.